quarta-feira, 24 de junho de 2009

Maria Gadu

Eu achei essa menina enquanto procurava as novidade no site Palco MP3. Fiquei surpreso com a qualidade e o encanto dessa cantora. Acredito que vão gostar muito! Eu sou muito suspeito porque adoro um sambinha.

Altar Particular
Maria Gadú

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Meu bem que hoje me pede pra apagar a luz
E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular

Sei lá, a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal

E então, tu tome tento com meu coração
Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós

Depois, que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós

Se enfim, você um dia resolver mudar
Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser

Ou então, dizer que dele resolveu cuidar
Tirar da cruz e o canonizar
Digo faço melhor do que lhe parecer

Teu cais deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor

Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio esperando a resposta ao que chamo de amor

Agradando a Gregos e Troianos

Tenho que reconhecer que a escolha deste título é bem clichê, mas não achei um outro que fosse tão certeiro quanto este.
Quando começamos a achar que o segredo da nossa felicidade está em agradar ou corresponder as expectativas do outro começamos a trilhar um caminho difícil e tortuoso, já que nossa família sempre quer de nós o melhor emprego, a melhor faculdade, a melhor mulher, o melhor carro e por aí vai. Nossos amigos seguem também a mesma linha, onde ficamos aprisionados, se nos permitirmos.
Seguindo essa idéia podemos perceber que o capitalismo nos impõe estas mesmas regras escravizadoras, pois se não usarmos aquela calça da LEVIS, as camisas da AVIATOR, os perfumes franceses, não comermos naquele restaurante da moda não teremos a plenitude da felicidade. Não sossegamos enquanto a TV Sony Bravia 42' não estiver na nossa sala de casa ou o nosso computador não for de ultima geração com milhões de núcleos duplos e velocidade superior a do pensamento.
Dentro de todas essas cobranças me vem logo o exemplo de uma pessoa que era tudo e podia tudo, mas não se deixou ser direcionado por nada que poderia possuir. Jesus foi este homem aqui na terra que se encantou com as crianças que o rodeavam, valorizou os que para a sociedade de nada mais valiam e pouco se importou com a opinião dos grandes lideres religiosos de sua época. Viveu cada minuto de sua vida com a intensidade do sol nascente.
Enfim, começo a perceber que mesmo inconscientes costumamos cair perigosamente nesta armadilha. Se baseamos nossas escolhas unicamente nas expectativas dos que nos rodeiam estamos condenados a uma eterna insatisfação e infelicidade.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ainda tô vivo!

Epa! Demorei pra aparecer por aqui. A vida é muito agitada e eu também não sou tão gênio assim como Lya Luft pra escrever assim tanto. rsrsrs

Disse que começaria a compartilhar as coisas que no divã fui aprendendo ou conhecendo. Pois é, não posso dizer que estou me encontrando ainda já que ainda estou no comecinho. Mas falando em Lya Luft, estou encantado com ela. Bem que meu amigo Edinaldo me falou. Essa mulher é muito inteligente e corajosa para falar de peito aberto sobre seus valores e defeitos, como tem uma maneira bonita de desenhar as circunstâncias. Selecionei um pedaço de sua obra que pesquisando gostei.

"PENSAR É TRANSGREDIR

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.
Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar.
Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.
Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.
Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.
Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.
Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer."

Lya Luft